quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Cultura e Imperialismo (Edward W. Said)


Edward W. Said busca descrever de modo geral as relações entre ‘Ocidente metropolitano’ e os ‘territórios ultramarinos’ com base nos textos europeus, nos seus discursos e estereótipos (literaturas estruturadas de sentimento que sustentam as práticas imperiais). Não negligencia dessa vez a reação do domínio ocidental – o grande movimento de descolonização no Terceiro Mundo com as resistências culturais e armadas em locais específicos. Percebe tanto as relações entre nativos e metrópole quanto às ‘outras culturas’ como alternativas políticas ao imperialismo. A cultura e as formas estéticas derivam da história. O objetivo é o exame geográfico da experiência histórica. A invocação do passado ainda é uma estratégia para as interpretações do presente. O empreendimento imperial depende da cultura para promover a posse de um Imperium como conjunto de experiências sob a presença de dominados e dominadores: a subordinação do colono. Os procedimentos imperiais foram além de práticas econômicas e decisões políticas, por isso promoveram a cultura nacional. Utilizam-se duas definições de culturas. De um lado, refere-se à cultura como prática e saberes populares ou mesmo disciplinares especializados – protótipo do romance realista moderno. Nações e narrações se entrecruzam, quando a terra remete, como objeto de disputa imperialista, a uma narrativa para definir a propriedade e planejamentos futuros. De outro lado, o conceito de cultura é significado pelo refinamento e elevação (o melhor de cada sociedade) associando-se, muitas vezes, ao Estado ou à Nação – cultura como fonte de identidade. A cultura se mostra como campo de batalha entre indivíduos que pertencem a sua nação e tradições, mas eles denigrem as outras culturas.

São justaposições de populações e vozes, o imperialismo moderno e as experiências sobrepostas de orientais e ocidentais. Encontra-se uma disputa interminável e a confusão política sangrenta perante a diferença. Nas narrativas apresenta-se a consciência como principal autoridade que dá sentido às ações colonizadoras e aos povos. Apesar dos horrores e do derramamento de sangue, o Império foi partilhado e interconectado. Até a extinção do colonialismo e do imperialismo, o conceito dessa relação era um poder de uma metrópole distante que controla uma colônia, então o imperium deve ser planejado para governar povos subordinados, inferiores e menos avançados. É uma quase-exclusividade, a potência do império como prática sócio-cultural européia. De todos os impérios discute-se, em especial, por sua coerência única e importância cultural, o francês, o britânico e o americano, ou seja, investe-se no domínio ultramarino que caracterizam estas três culturas.

O mundo imperial britânico foi um todo integrado, o que estava em joga eram territórios e possessões, geografia e poder. Uma nova geografia que não é dos soldados nem dos canhões, mas das imagens e das representações, que derivam da concentração do poder mundial nas mãos da Grã-Bretanha e da França. Em 1914, 85% do mundo estavam na forma de colônias (commonwealths). Os ingleses e os franceses não se constrangiam em admitir a cultura imperial, coisa que os EUA receavam em admitir as suas intenções imperiais. Destacam-se os EUA, no Pós-guerra-fria, como única superpotência mundial, no ato de conduzir povos ‘inferiores’ sob o apelo ao poder e ao interesse nacional em oposição às revoltas nativas. Se o imperialismo avançou nos séculos XIX-XX ampliou a resistência, ou seja, houve uma retroalimentação do imperialismo ocidental e do nacionalismo terceiro-mundista. Com o surgimento de novos alinhamentos de fronteiras acabaram-se as oposições binárias simples entre imperialismo e nacionalismos. Uma concepção estática de identidade foi contestada com esses novos alinhamentos, embora o contato do europeu com os ‘outros’, desde o século XVI, não variou com a idéia bem definida entre ‘nós’ e ‘eles’. A cultura eurocêntrica codificava tudo o que se referia ao mundo não-europeu. São analisadas as obras de Jane Austen (Mansfield Park), Rudyard Kipling (Kim), Joseph Conrad (Heart of Darkness e Lord Jim) e Timothy Mitchell (Colonising Egypt)... Trata-se de territórios sobrepostos e de histórias entrelaçadas.

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