Dentre tantos temas sobre a Cultura Grega destaca-se, desde o roubo do fogo realizado por Prometeu que faz, ao mesmo tempo, da terra um coágulo de sangue: Pandora, alimento e reprodução feitos no solo. O povo ateniense compõe-se por uma classificação de raças feitas de metal que se sucedem hierarquicamente no tempo: ouro, prata, bronze e ferro. Há uma raça que escapa às classificações metálicas: os heróis, que se incluem antes da raça de bronze. Trata-se de um ordenamento das raças, de ouro à de ferro, que exprime a decadência deste último estágio. Definem-se dois planos diferentes – ouro e prata, heróis e bronze – quando os primeiros morrem transformam-se em demônios (dáimon), mas os segundos apenas morrem e desaparecem. Estes planos são regulados pela justiça (Díke) e pela injustiça (Hýbris). A justiça é o valor dominante no primeiro plano (relações entre homens e deuses) e a injustiça é o principal elemento no segundo plano (força e violência física). A raça de ferro tem um plano próprio e habitado unicamente, mas não há uma Idade do Ferro, mas dois tipos rigorosamente opostos de existência humana, num dos quais se situa Dike, em outro apenas Hýbris. Traça-se um terceiro plano em que a ambiguidade povoa a superfície, coexistindo os contrários numa moral que dá a todo o bem um mal: homem-mulher, nascimento-morte, juventude-velhice, felicidade-terror, etc. O quadro da vida humana na Idade do Ferro não nos surpreende. Os temas de Prometeu e de Pandora formam as duas partes de uma única e mesma história: a da miséria humana na Idade do Ferro. Uma boa luta incita os homens ao trabalho, pois a felicidade e a riqueza são pagas por um esforço do labor a aceitar às duras leis que lhes restam, porque a justiça, a Dike consiste em uma submissão completa a uma ordem que ele não criou e que se lhe impõem do exterior. A outra luta gera a guerra e as disputas, desvio do trabalho que os conduzem à violência, embuste e injustiça.
Os homens têm em mãos todas as técnicas, após o roubo do fogo de Prometeu, mas não dispõem das artes políticas nem das artes guerreiras; os reis são da raça de ouro e prata, enquanto os guerreiros são os heróis e os homens da raça de bronze. Um ordenamento territorial impõe-se aos homens de ferro, mesmo sendo mítico e religioso. O par de deuses Hermes-Héstia (vizinhos e casais) trama as relações entre a terra e o sangue, alojando o fogo e colocando em movimento as riquezas. As relações que o par de deuses estabelece com o espaço grego, devidamente ordenado, posicionam Héstia no ponto fixo da casa e Hermes ligado à extensão terrestre. Nota-se a relação espacial da divisão sexual do trabalho na Grécia Arcaica, onde o homem ocupa o exterior e a mulher o interior do domicílio. Héstia e Hermes possuíam atributos opostos, mas complementares, situados num mesmo plano e assumindo funções conexas.
O oikos representava o espaço da fixidez no isolamento da casa, enquanto o nomos era o espaço exterior, do movimento. O espaço aberto – representado por Hermes, definido pelo domínio pastoril, terrenos para percursos, espaço livre dos rebanhos – estava em oposição ao mundo da cidade (a casa e os campos cultivados). Em ambos circulavam a riqueza e a economia, os tesouros nas casas da cidade (oikos-polis) e os rebanhos no campo nômade (nomos). A permanência de Héstia confere a casa um centro fixo espacial e assegura no tempo a perenidade do grupo através da linhagem familiar, perpetuando-se sob uma identidade em cada geração: Gé e Genos, terra e origem, solo e sangue. Na lareira as linhagens tecem-se como num tear, mas um “cetro” parece ser a imagem móvel da soberania que confia Hermes como a um rei as delegações e transmissões institucionais, de autoctonia. Economicamente contrastam o interior e o exterior, o fixo e o imóvel. Hermes pastoril conduz os rebanhos nos campos longínquos, consagrados ao domínio dos percursos, por oposição ao mundo da cidade, a casa e mesmo aos campos cultivados. O duplo aspecto da fortuna insinua-se no matrimônio e marca a propriedade privada. O casamento resultava de um contrato comercial, a mulher representa os bens que são postos em circulação (rebanhos bovinos principalmente), ela se movimenta como tais bens.
A tesaurização e a aquisição representam Hermes e Héstia. Deslocam-se as reservas no oikos (todos estes bens móveis ou não) para capitalução e tendência a apropriação como “economia distributiva”, isto é, uma casa solidária com um lote de terra separado e diferenciado para subsistência. Como cúmplice, Hermes (ladrão de rebanhos) faz multiplicar a riqueza, impondo movimentos graduais para mais e para menos, à medida que adquire gados que espreitam às vizinhanças do seu próprio rebanho, enquanto Héstia domina-os por possessão e conservação. O centro da cidade, por onde as filhas circulavam, mais tarde representará a ágora, mas ainda simbolizava uma intumescência do solo ou umbigo onde se promove o enraizamento de uma geração na geração precedente, mas também enraizamento do rebento humano na terra da casa paterna.
Os homens têm em mãos todas as técnicas, após o roubo do fogo de Prometeu, mas não dispõem das artes políticas nem das artes guerreiras; os reis são da raça de ouro e prata, enquanto os guerreiros são os heróis e os homens da raça de bronze. Um ordenamento territorial impõe-se aos homens de ferro, mesmo sendo mítico e religioso. O par de deuses Hermes-Héstia (vizinhos e casais) trama as relações entre a terra e o sangue, alojando o fogo e colocando em movimento as riquezas. As relações que o par de deuses estabelece com o espaço grego, devidamente ordenado, posicionam Héstia no ponto fixo da casa e Hermes ligado à extensão terrestre. Nota-se a relação espacial da divisão sexual do trabalho na Grécia Arcaica, onde o homem ocupa o exterior e a mulher o interior do domicílio. Héstia e Hermes possuíam atributos opostos, mas complementares, situados num mesmo plano e assumindo funções conexas.
O oikos representava o espaço da fixidez no isolamento da casa, enquanto o nomos era o espaço exterior, do movimento. O espaço aberto – representado por Hermes, definido pelo domínio pastoril, terrenos para percursos, espaço livre dos rebanhos – estava em oposição ao mundo da cidade (a casa e os campos cultivados). Em ambos circulavam a riqueza e a economia, os tesouros nas casas da cidade (oikos-polis) e os rebanhos no campo nômade (nomos). A permanência de Héstia confere a casa um centro fixo espacial e assegura no tempo a perenidade do grupo através da linhagem familiar, perpetuando-se sob uma identidade em cada geração: Gé e Genos, terra e origem, solo e sangue. Na lareira as linhagens tecem-se como num tear, mas um “cetro” parece ser a imagem móvel da soberania que confia Hermes como a um rei as delegações e transmissões institucionais, de autoctonia. Economicamente contrastam o interior e o exterior, o fixo e o imóvel. Hermes pastoril conduz os rebanhos nos campos longínquos, consagrados ao domínio dos percursos, por oposição ao mundo da cidade, a casa e mesmo aos campos cultivados. O duplo aspecto da fortuna insinua-se no matrimônio e marca a propriedade privada. O casamento resultava de um contrato comercial, a mulher representa os bens que são postos em circulação (rebanhos bovinos principalmente), ela se movimenta como tais bens.
A tesaurização e a aquisição representam Hermes e Héstia. Deslocam-se as reservas no oikos (todos estes bens móveis ou não) para capitalução e tendência a apropriação como “economia distributiva”, isto é, uma casa solidária com um lote de terra separado e diferenciado para subsistência. Como cúmplice, Hermes (ladrão de rebanhos) faz multiplicar a riqueza, impondo movimentos graduais para mais e para menos, à medida que adquire gados que espreitam às vizinhanças do seu próprio rebanho, enquanto Héstia domina-os por possessão e conservação. O centro da cidade, por onde as filhas circulavam, mais tarde representará a ágora, mas ainda simbolizava uma intumescência do solo ou umbigo onde se promove o enraizamento de uma geração na geração precedente, mas também enraizamento do rebento humano na terra da casa paterna.
Para a consagração de um recém-nascido por seu pai e inscrevê-lo no oikos, ligá-lo ao lar, um rito designado por Anfidromias. Este rito Anfidromias procedia do seguinte modo, o bebê recém-nascido era deixado em uma altura acima da lareira da casa, assim ele podia manter as suas lembranças da imortalidade através da proximidade do calor do fogo. A partir daí ele seria depositado ao chão da casa, para que fosse levado à vida normal e esquecer-se dessa tentativa de imortalidade. Este ritual, Anfidromias, entretanto, procedia por uma dupla ação que pode promover a integração do recém-nascido, ligado à lareira doméstica e reconhecido por seu pai, mas a criança podia ser rejeitada nos limites do oikos, por um rito de exposição e abandono. Neste ato de deposição, a criança é colocada num espaço longínquo longe da casa, dos jardins e dos campos, a terra inculta em que vivem os rebanhos, o espaço estranho e hostil. Tudo concorre, na lenda heróica, a delinear em redor da criança exposta uma paisagem pastoril. Os pais, que rejeitam sua progenitura do mundo dos vivos, confiam-na a um pastor para que a leve e a abandone nos matagais e nos montes, nessas terras incultas aonde conduz seus animais a pastar.
A estrutura do Oikos (Héstia) onde o filho é integrado ou abandonado ao Nomos (Hermes) é potencializada, portanto por um “motor”: Hýbris (violência) e Díke (justiça). No ritual Anfidromias o que está em jogo é a legitimação de uma força “jurídica” não medida pela lei, mas apenas torna sensata a imediatez de uma “nova lei”. O chefe do oikonomos é chefe do empreendimento social, mas o despótes (o chefe da família) ocupa-se da reprodução da vida e de sua subsistência, constituindo o poder soberano.
Nenhum comentário:
Postar um comentário