sábado, 26 de setembro de 2009

O Declínio do Poder Americano (Immanuel Wallerstein)


A economia-mundo capitalista está em crise na sua condição de sistema social histórico. Os sistemas que estão em crise entram em um período caótico, do qual emerge eventualmente uma nova ordem. As suas trajetórias bifurcam-se e é intrinsecamente impossível prever que ramo prevalecerá. Isto significa que pequenas pressões em uma ou noutra direção podem ser decisivas, pois o sistema está longe do equilíbrio, quando a luta social está extremamente acentuada. Em outros termos, no meio de um período de crise, ou seja, caótico, onde ocorre uma bifurcação, não resta dúvida, que nos próximos cinquenta anos, em nosso caso, o sistema atual deixará de existir e um novo existirá. Neste sentido, discute-se a diferença entre a retórica e a realidade que rodeia as principais palavras de ordem no nosso discurso político contemporâneo: globalização, racismo, Islã, democracia, os ‘outros’.

Ressalta-se que a tese central que se apresenta está redimensionada no fato de que os Estados Unidos são uma potência em hegemônica em declínio, em que o 11 de setembro foi mais uma das evidências disso. O 11 de setembro de 2001 foi um momento dramático na história americana, mas foi apenas um evento em uma trajetória que começou muito antes e que parece continuar ainda por décadas, o que se pode chamar de período do declínio da hegemonia norte-americana. O 11 de setembro trouxe para primeiro plano cinco realidades sobre os Estados Unidos: 1] os limites de seu poder militar (mesmo sendo a maior potência militar do mundo, um bando de ‘crentes fanáticos’, com pouco dinheiro relativamente e ainda menos equipamentos militares, conseguiu lançar um ataque grave no território dos EUA) ; 2] a aprofundamento do sentimento antiamericano no mundo (esse sentimento não é novo, difundido desde que os EUA tornaram-se potência hegemonia do sistema-mundo, após 1945); 3] a ‘ressaca’ dos excessos econômicos da década de 1990 (fase extraordinariamente boa em termos econômicos, com elevada produtividade, bolsas de valores em alta, reduzida taxa de desemprego, baixa inflação, etc.); 4] as pressões contraditórias do nacionalismo norte-americano (a instabilidade do nacionalismo americano pode causar estragos porque assumiu duas formas diferentes, isolacionismo, retirada para dentro da ‘fortaleza América’, e o expansionismo, próprio da potência que visa conquistas militares); 5] a fragilidade da tradição de liberdades civis (em relação as repetidas ações ilegais levadas a cabo pelas agências federais como a CIA e o FBI, além de agências locais).

A ascensão dos Estados Unidos à hegemonia no sistema-mundo começou por volta de 1870, com o início do declínio do Reino Unido. Os EUA e a Alemanha competiram entre si como concorrentes a essa sucessão da Grã-Bretanha. Ambos expandiram sua base industrial entre 1870 e 1914, ultrapassando a Grã-Bretanha. Mas os Estados Unidos enfraqueceram como potência global desde a década de 1970, cuja reação a ataques terroristas acelerou esse declínio. Assim, percebe-se que os fatores econômicos, políticos e militares que contribuíram para a hegemonia dos EUA são os mesmos fatores que produzirão o seu iminente declínio. O sucesso dos Estados Unidos como potência no pós-guerra criou as condições para que sua própria hegemonia fosse minada, processo que pode ser captado por quatro símbolos: a] a guerra do Vietnã (os vietnamitas combateram os franceses, os japoneses, os norte-americanos e no fim venceram, com o seu esforço de estabelecer o seu próprio Estado, o que foi um forte golpe aos EUA de continuarem a ser a potência hegemônica econômica e política do globo); b] as revoluções de 1968 (as consequências políticas diretas das revoluções mundiais de 1968 devem ser articuladas as repercussões geopolíticas e intelectuais que causaram, cuja posição ideológica oficial dos EUA – antifascista, anticomunista, anticolonialista – começou a parecer débil); c] a queda do Muro de Berlim em 1989 (o colapso do comunismo significava, com efeito, o próprio colapso do liberalismo, ao eliminar a única justificativa ideológica para a hegemonia dos EUA); d] os ataques terroristas de setembro de 2001 (contra as organizações terroristas islâmicas, os EUA invadiram o Afeganistão e o Iraque com um súbito objetivo de ‘democratizá-los’, mas uma vez forçados a se retirarem, parecem ainda mais ineficazes).

A ‘equação da democracia-racismo’ torna-se cada vez mais uma sombra na escalada ao precipício dessa hegemonia. Por um lado, a democracia busca tratar todas as pessoas igualmente, em termos de poder, distribuição, oportunidades de realização pessoal. Mas, por outro lado, o racismo não deixa de ser um modo primário de distinguir entre aqueles que têm direitos e os outros, os que não têm direitos ou têm menos direitos, ao mesmo tempo em que define os grupos. O racismo está, pois, disseminado por todo o sistema-mundo, infelizmente, nenhum canto do planeta está livre dele. Portanto, o racismo não tem por objetivo excluir ou exterminar as pessoas, em primeiro lugar, busca manter as pessoas dentro do sistema, mas como inferiores, assim elas podem ser exploradas economicamente ou usadas como bode expiatórios políticos, o que aconteceu com o nazismo, segundo Immanuel Wallerstein, foi um disparate, uma derrapagem, perda de controle.

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