São textos incríveis de antropologia política. Para compreendê-los melhor destacam-se três aspectos: a distinção entre Genocídio e Etnocídio; os Mitos e Ritos dos índios da América do Sul, com destaque para a antropofagia; e a guerra entre os índios sul-americanos.
Em primeiro lugar, para uma reflexão sobre etnocídio determina-se este fenômeno em distinção com o genocídio. Em 1946 foi criado o conceito jurídico de genocídio como tipo de criminalidade, com o extermínio sistemático dos judeus pelos nazistas alemães. Houve acusações de genocídio contra as potências coloniais, das guerras pós-1945 no Terceiro Mundo. A expansão colonial no século XIX e a constituição de impérios coloniais europeus responsáveis por massacres de populações autóctones – uma máquina de destruição dos índios desde 1492 na América. Trata-se de etnocídio e genocídio. O etnocídio se define pela destruição da cultura, dos modos de vida e pensamento, enquanto genocídio nos remete a idéia de raça. O genocídio mata o corpo e o etnocídio mata o espírito. Etnocídio e genocídio tratam da morte e têm ambos uma versão idêntica do Outro: má diferença. O Genocida extermina os outros porque são maus e o etnocida, os outros são maus, trata-se de obrigá-los a se identificar com um padrão. Destaca-se a atitude etnocida dos missionários, que aparecem na América do Sul como militantes da fé cristã. A atitude evangelizadora implica uma dupla certeza: a diferença (paganismo) inaceitável, e o mal dessa diferença pode ser abolido. Eliminar a força da crença pagã é destruir as sociedades primitivas. O etnocídio é determinado por dois axiomas: hierarquia das culturas e a superioridade da cultura ocidental. O etnocentrismo é a vocação de avaliar as diferenças pela própria cultura, assim afirma sua superioridade cultural, mas recusa os outros como iguais. Toda cultura é etnocêntrica, mas só a ocidental é etnocida. Ela é etnocida no interior de si mesma e contra outras culturas também. Toda formação estatal é etnocida, da cultura francesa a Inca. Trata-se de uma supressão autoritária das diferenças sócio-culturais inscritas na máquina estatal ao proceder por uniformização da relação que tem com o indivíduo; reconhece apenas cidadãos iguais diante da lei.
Em segundo lugar, sobre as religiões índias da América do Sul. Destaca-se dentre os rituais sagrados, o rito funerário que se divide em dois momentos: a) ciclo cerimonial complexo que acompanha o enterro dos mortos; b) o esqueleto descarnado em cortejo até ser lançado no rio mais próximo. Há dois rituais funerários, o enterro dos vivos e o canibalismo. Algumas sociedades não enterram seus mortos, elas os comem. A antropofagia se define com o tratamento diferenciado e destinado aos prisioneiros de guerra, os tupis-guaranis praticavam o exocanibalismo, diferentemente de outras tribos como a yanomami, que comem os corpos dos parentes mais próximos. O endocanibalismo tem como seu efeito a integração total dos mortos aos vivos, mas leva ao extremo a separação entre vivos e mortos: o ato dos vivos comerem os mortos é com o intuito de privá-los de uma última fixação no espaço, no túmulo. Trata-se de uma conjunção com os antepassados fundadores, uma aliança e uma inclusão, mas tratam-se também de uma disjunção com a comunidade dos mortos, uma ruptura e uma exclusão.
Em terceiro lugar, o descobrimento da América forneceu ao Ocidente o seu primeiro contato com os ‘selvagens’, no século XVI, os europeus se confrontaram com um tipo de sociedade diferente: o ‘mundo dos selvagens’ era impensável para o pensamento europeu. Os ‘povos primitivos’ era dados à guerra, caráter belicoso que impressionava aos observadores das ‘culturas primitivas’. São sociedades violentas, seu ser social é um ‘ser-para-a guerra’. A guerra é um modo de vida das sociedades primitivas (distribui unidades sociopolíticas iguais, livres e independentes) sob uma lógica centrífuga e múltipla em oposição à lógica da unificação e da força centrípeta – a lógica do Um, do Estado. A máquina de guerra é o motor da máquina social, a sociedade primitiva se baseia na guerra que impede o Estado. Recusa do Estado é a recusa da exo-nomia (lei externa), recusa à submissão. A sociedade primitiva se compõe por uma multiplicidade de comunidades indivisas e a guerra é o meio para garantir a lógica centrífuga. Quanto mais guerra, menos unificação. O Estado é o inimigo da guerra, deste modo a guerra impede o Estado. Trata-se, portanto, de uma sociedade para guerra, logo, de uma sociedade contra o Estado. A vida guerreira é um combate perpétuo, assim é preciso que o empreendimento seja mais difícil, o perigo mais terrível e o risco mais considerável – o guerreiro e o seu ‘ser-para-a-morte: paixão pela glória que age por uma paixão pelo instinto de morte.
Em primeiro lugar, para uma reflexão sobre etnocídio determina-se este fenômeno em distinção com o genocídio. Em 1946 foi criado o conceito jurídico de genocídio como tipo de criminalidade, com o extermínio sistemático dos judeus pelos nazistas alemães. Houve acusações de genocídio contra as potências coloniais, das guerras pós-1945 no Terceiro Mundo. A expansão colonial no século XIX e a constituição de impérios coloniais europeus responsáveis por massacres de populações autóctones – uma máquina de destruição dos índios desde 1492 na América. Trata-se de etnocídio e genocídio. O etnocídio se define pela destruição da cultura, dos modos de vida e pensamento, enquanto genocídio nos remete a idéia de raça. O genocídio mata o corpo e o etnocídio mata o espírito. Etnocídio e genocídio tratam da morte e têm ambos uma versão idêntica do Outro: má diferença. O Genocida extermina os outros porque são maus e o etnocida, os outros são maus, trata-se de obrigá-los a se identificar com um padrão. Destaca-se a atitude etnocida dos missionários, que aparecem na América do Sul como militantes da fé cristã. A atitude evangelizadora implica uma dupla certeza: a diferença (paganismo) inaceitável, e o mal dessa diferença pode ser abolido. Eliminar a força da crença pagã é destruir as sociedades primitivas. O etnocídio é determinado por dois axiomas: hierarquia das culturas e a superioridade da cultura ocidental. O etnocentrismo é a vocação de avaliar as diferenças pela própria cultura, assim afirma sua superioridade cultural, mas recusa os outros como iguais. Toda cultura é etnocêntrica, mas só a ocidental é etnocida. Ela é etnocida no interior de si mesma e contra outras culturas também. Toda formação estatal é etnocida, da cultura francesa a Inca. Trata-se de uma supressão autoritária das diferenças sócio-culturais inscritas na máquina estatal ao proceder por uniformização da relação que tem com o indivíduo; reconhece apenas cidadãos iguais diante da lei.
Em segundo lugar, sobre as religiões índias da América do Sul. Destaca-se dentre os rituais sagrados, o rito funerário que se divide em dois momentos: a) ciclo cerimonial complexo que acompanha o enterro dos mortos; b) o esqueleto descarnado em cortejo até ser lançado no rio mais próximo. Há dois rituais funerários, o enterro dos vivos e o canibalismo. Algumas sociedades não enterram seus mortos, elas os comem. A antropofagia se define com o tratamento diferenciado e destinado aos prisioneiros de guerra, os tupis-guaranis praticavam o exocanibalismo, diferentemente de outras tribos como a yanomami, que comem os corpos dos parentes mais próximos. O endocanibalismo tem como seu efeito a integração total dos mortos aos vivos, mas leva ao extremo a separação entre vivos e mortos: o ato dos vivos comerem os mortos é com o intuito de privá-los de uma última fixação no espaço, no túmulo. Trata-se de uma conjunção com os antepassados fundadores, uma aliança e uma inclusão, mas tratam-se também de uma disjunção com a comunidade dos mortos, uma ruptura e uma exclusão.
Em terceiro lugar, o descobrimento da América forneceu ao Ocidente o seu primeiro contato com os ‘selvagens’, no século XVI, os europeus se confrontaram com um tipo de sociedade diferente: o ‘mundo dos selvagens’ era impensável para o pensamento europeu. Os ‘povos primitivos’ era dados à guerra, caráter belicoso que impressionava aos observadores das ‘culturas primitivas’. São sociedades violentas, seu ser social é um ‘ser-para-a guerra’. A guerra é um modo de vida das sociedades primitivas (distribui unidades sociopolíticas iguais, livres e independentes) sob uma lógica centrífuga e múltipla em oposição à lógica da unificação e da força centrípeta – a lógica do Um, do Estado. A máquina de guerra é o motor da máquina social, a sociedade primitiva se baseia na guerra que impede o Estado. Recusa do Estado é a recusa da exo-nomia (lei externa), recusa à submissão. A sociedade primitiva se compõe por uma multiplicidade de comunidades indivisas e a guerra é o meio para garantir a lógica centrífuga. Quanto mais guerra, menos unificação. O Estado é o inimigo da guerra, deste modo a guerra impede o Estado. Trata-se, portanto, de uma sociedade para guerra, logo, de uma sociedade contra o Estado. A vida guerreira é um combate perpétuo, assim é preciso que o empreendimento seja mais difícil, o perigo mais terrível e o risco mais considerável – o guerreiro e o seu ‘ser-para-a-morte: paixão pela glória que age por uma paixão pelo instinto de morte.
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