sábado, 22 de novembro de 2008

Império (Michael Hardt e Antonio Negri)


Para compreender o “Império” é necessário analisar a produção biopolítica como uma concepção conceitual que passa, pelo menos, por três abordagens: a) a passagem da sociedade disciplinar para a sociedade de controle; b) o biopoder; c) a biopolítica através das corporações e a comunicação. Primeiramente, no que diz respeito à sociedade disciplinar, o comando social se realiza a partir de uma rede difusa de dispositivos que produzem e regulam os costumes, hábitos e práticas produtivas; há obediência às regras e mecanismos de inclusão/exclusão, por meio de instituições disciplinares; o poder disciplinar se manifesta sancionando e prescrevendo comportamentos entre normal-desviantes. Foucault relacionava o surgimento das disciplinas ao antigo regime francês, mas Hardt e Negri associaram o dispositivo disciplinar à primeira fase de acumulação capitalista. Enfim, sobre a sociedade de controle, os mecanismos de poder se tornam mais ‘democráticos’ e imanentes ao campo social, distribuídos por corpos e cérebros; os comportamentos de integração e exclusão são mais interiorizados; o poder é exercido mediante máquinas que organizam o cérebro (sistemas de comunicação, redes de informação) e os corpos (sistemas de bem-estar, atividades monitoradas); caracteriza-se por intensificação e síntese dos aparelhos de normalização e disciplinaridade; o controle se estende bem para fora dos locais institucionais, mediante redes flexíveis e flutuantes. Não se trata apenas da distinção entre essas duas formas de controle social. Há também a distinção entre biopoder e biopolítica.

O Biopoder é uma forma de poder que regula a vida social por dentro, acompanhando-a, interpretando-a, absorvendo-a e a rearticulando. Só a sociedade de controle está apta a adotar o contexto biopolítico como terreno exclusivo de referência. O biopoder é definido como conjunto de tecnologias de poder que marcam a passagem das sociedades de disciplina para as sociedades de controle. A lógica do biopoder era parcial nas sociedades disciplinares, pois sua lógica era fechada, geométrica e quantitativa. O poder se expressa como um controle que se estende pela consciência e pelos corpos da população, através da totalidade das relações sociais.

A Biopolítica se exprime com o imperialismo. A partir da segunda metade do século XX as corporações transnacionais começam a estruturar biopoliticamente territórios globais, constroem o tecido conectivo fundamental do ‘mundo biopolítico’. Estas corporações ocupam o lugar do imperialismo, mas este lugar foi transformado pela nova realidade do capitalismo. As atividades das corporações são definidas por estruturarem e articularem territórios e populações. O complexo aparelho que seleciona investimentos determina uma nova geografia do mercado mundial, ou a nova estruturação biopolítica do mundo. No plano global, cada figura biopolítica aparece monetária. As grandes potências industriais e financeiras produzem mercadorias e subjetividades (produzem necessidades, relações sociais, corpos e mentes). Localizam a produção biopolítica na produção de linguagem, comunicação e do simbólico. A comunicação expressa e organiza o movimento de globalização, além de guiar o imaginário. O poder é formado imanente às relações sociais. A comunicação é coexistente ao contexto biopolítico. A síntese política de espaço social é fixada no espaço da comunicação. A linguagem comunica e produz mercadorias, cria subjetividade e põe umas em relações coma s outras e as ordena.

No pós-guerra, as políticas imperialistas dos países capitalistas dominantes foram transformadas como resultado do projeto de reforma econômica e social e hegemônica dos EUA. A nova cena global foi organizada em torno de três mecanismos: 1) o processo de descolonização que recompôs o mercado mundial em linhas hierárquicas a partir dos EUA; 2) a descentralização gradual dos locais e dos fluxos de produção; 3) a construção de relações internacionais que espalhou pelo globo a Rede Disciplinar em sucessivas evoluções. No entanto a resistência a essa Rede Disciplinar se inscreve não no Império, mas na multidão.

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