quinta-feira, 27 de novembro de 2008

O Espaço Crítico (Paul Virilio)


Atenta-se para um redimensionamento do espaço físico cibernético, este espaço tecnológico artificial que apresenta outras formas, outras estruturas e outras funções em relação às habituais. O global e o local são efeitos deste espaço de realidade virtual, cujas imagens provenientes de quaisquer lugares podem ser velozmente teletransportadas, instantaneamente veiculadas para quaisquer pontos do planeta, desde que estejam conectados às redes de informação. Primeiramente identificam-se alguns aspectos preliminares acerca do ciberespaço, para posteriormente definir os seus aspetos de ordem física e geométrica, isto é, suas propriedades (dimensões e formas). Aspectos preliminares que identificam a origem da cibernética, a velocidade da informação e o ciberespaço, questões sobre a imagem mental e a imagética de síntese (percepção do espaço); o ambiente psicogeográfico (implicações sobre o IN/OUT, dentro/fora); o “microspace” e a janela catódica (Windows, tela televisiva); e as videoperformances (observação direta).

As propriedades físicas explorarão, nessas análises, as noções dos grãos Pixels (grão fotográfico, unidade de medida e representação); o Punctum (Quanta, a forma do Pixel); noções sobre os fractais de Mandelbrot. As representações teóricas na escala microscópica (as partículas atômicas) resultam do quantum de ação, de energia, grão de matéria ou de luz (neutron, elétron, fóton...) e da incerteza de sua posição ou velocidade, num meio provavelmente incerto, aspectos fundamentais da mecânica quântica. A representação prática na escala macroscópica (humana) é efeito de uma espécie de mecânica puntica (alfa-numérica) que sacrifica a representação por coordenadas cartesianas e repousa as videoperformances do punctum de ação, dos pixels (pontos luminosos da óptica eletrônica). A forma-imagem sintética, a interface ou a interação entre observador/observado; a noção de espaço-velocidade; e as telecomunicações à distância, as teleconferências... Por fim questionar-se-á a desqualificação do mundo real em proveito da realidade virtual, considerando a função do espaço (localização) num mundo midiatizado pelo Global Positionning System (o GPS).

De volta aos aspectos preliminares e a origem da cibernética. Originária de uma tentativa de se simular a organização da realidade sobre as “Máquinas Inteligentes” (título da obra de Alan Turing, 1947), a cibernética é uma síntese da informação, da teoria dos jogos, da teoria do sinal e da neurobiologia. A cibernética, quando se uniu aos meios de telecomunicações em “tempo real”, foi capaz de deslocar a lógica da informação e sua barreira logística, isto aconteceu no final da década de 1950, com o projeto de defesa antiaéreo dos Estados Unidos, assegurando a cobertura por radar de todo o espaço norte-americano. A Força Aérea americana e o laboratório Lincoln do MIT pesquisaram um sistema de alerta (a rede SAGE – Semi Automatic Group Environment).

O espaço-tempo cibernético surgiu dessa concepção, cuja informação só tem valor pela sua rapidez de difusão, isto é, a informação é a própria velocidade! Nesse fenômeno da percepção, idéia compartilhada por Husserl, de que o espaço é limitado em relação ao mundo da experiência sensível, não havendo, então, nenhum mundo além deste, mas somente uma “profundidade de tempo”. Deste modo, enquanto o mundo se fecha sobre si mesmo e se torna um espaço finito, segundo Merleau-Ponty, a necessidade de superá-lo torna-se iminente. Entre as antípodas de nosso planeta (habitantes em pontos opostos do globo) instaurou-se um horizonte transparente através das técnicas audiovisuais. O limite que surge é de uma nova fronteira menos geográfica do que infográfica: de uma imagem mental das distâncias a uma imagética instrumental (de computador) gerando um além virtual. Superando os limites de um espaço planetário finito, com base na velocidade dos cálculos dos circuitos integrados do ciberespaço.

As noções tradicionais de entrada e saída, dentro e fora, IN e OUT, perderam a sua conotação espacial e ambiental tornando-se “a diferença das diferenças”. Não se deduz mais a diferença entre o ser e seu ambiente pelas noções habituais de interior e exterior, dentro e fora... O Imperium Psicogeográfico coloniza o espaço não mais pelas caravelas ou hélices... Mas pela retroação, retroatividade de quem faz vir a si o horizonte de um ambiente, como quem faz vir a si um cão pelo assobio. O espaço cibernético foi capaz de matar a viagem e fez vir até a nós o país que se queria visitar, através da ciência, da física quântica e de seus avanços micrológicos.

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