Sabe-se que, por razões próprias, Erving Goffman optou por estudar mais minuciosamente os manicômios. Deste modo, um interno novato é despido pela instituição total da sua ‘cultura aparente’ derivada do ‘mundo da família’, há certo desculturamento do interno em longa estada. Cria-se uma tensão entre o mundo doméstico e o mundo institucional: uma força estratégica que se denomina ‘mortificação do eu'. O primeiro processo de ‘mortificação do eu’ é a barreira posta pela instituição entre o interno e o mundo exterior. Uma ‘morte civil’, em cujos processos de admissão tenta-se obter a história de vida, um interrogatório do interno. A lógica da obediência e castigo compõe os processos de admissão como formas de iniciação. O segundo processo de ‘mortificação’ designa-se por mutação do eu: perda do nome, separação das posses, de seus bens (deformação pessoal); maus-tratos, marcas e perdas dos membros do corpo (desfiguração pessoal); violação do território do eu, invasão das fronteiras entre o ser dos indivíduos e o ambiente (exposição contaminadora). A violação é um modelo de contaminação interpessoal, o exame e o examinador violam o território do eu. Para suavizar essas mortificações – os sistemas de privilégio. Há três elementos desse sistema: a) as regras da casa; b) a obediência a essas regras; c) prêmios e privilégios a quem obedece a essas regras.
Algumas táticas de adaptação são exercidas em relação aos sistemas de privilégio e ao processo de mortificação. 1) tática de afastamento da ‘situação’ – o indivíduo somente se relaciona com os acontecimentos que cercam seu corpo; 2) tática de intransigência – o interno desafia a instituição e não coopera com a direção; 3) tática de colonização – o mundo externo, que é reservado ao indivíduo, é considerado como o todo. Uma existência estável e satisfatória. Trata-se de uma redução usual entre o mundo externo e o mundo institucional; 4) tática de conversão – há a aceitação do internado a interpretação oficial (‘o internado perfeito’). Cada tática representa uma forma de enfrentar a tensão entre o mundo original e o mundo institucional.
Ressalta-se o problema do ambiente, algum local ou alguma região do hospital. Há os espaços fora do alcance, tudo o que estivesse fora das paredes de onde a equipe dirigente observe. Há o espaço de vigilância, área destinada ao paciente onde estava sujeito à autoridade e às restrições. Os espaços não-regularizados, meios temporários em que se evita a vigilância, espaços físicos limitados designados por ‘locais livres’ – a face oculta das relações usuais entre internos e dirigentes. Casa de guarda, cantina e refeitório são esses ‘locais livres’, ambientes empregados para as atividades proibidas, preenchido por um relaxamento, em uma conquista de tempo livre do controle rígido. Mas quando um grupo de pacientes acrescenta, ao seu acesso a um local livre, um direito de manter afastados todos os outros pacientes: elucidam-se ‘restrições territoriais’ ou território de grupos. Enumeramos os locais livres, os territórios de grupo, faltam-nos definir os territórios pessoais – contínuo entre o lar e o refúgio. O quarto de dormir é o tipo básico de território pessoal. O cobertor é um espaço mínimo em que se transforma em território pessoal. Um território pessoal pode ser criado dentro de um local livre ou de um território de grupo. Doravante, há o ‘stash’ (esconderijo): local pessoal de armazenamento que impede intromissão e a interferência ilegítima, um corpo humano (vivo ou morto) pode ser um objeto guardado em esconderijos.
Nesta toponímia, o hospital psiquiátrico é, pois, uma organização formal instrumental com limites físicos, que podem ser incidentais, mas neste caso os limites são as paredes, ou seja, são organizações muradas e há a adesão visível, isto é, há a submissão dos indivíduos nas atividades da organização. Em primeiro lugar, há alguns direitos garantidos de padrões de bem-estar; em segundo, visa-se a cooperação por valores comuns; em terceiro, torna-se necessário dar incentivos; enfim, induz-se por castigos para que o participante coopere (sanções negativas). Tudo isso incita o desejo de fuga dos internados. Toda organização inclui disciplina de atividade e disciplina de ser. Há, entretanto, o esforço de a equipe hospitalar em frustrar atos autodestrutivos que tendem a gerar ‘maus-tratos’, ora... e os castigos em celas fechadas?
Algumas táticas de adaptação são exercidas em relação aos sistemas de privilégio e ao processo de mortificação. 1) tática de afastamento da ‘situação’ – o indivíduo somente se relaciona com os acontecimentos que cercam seu corpo; 2) tática de intransigência – o interno desafia a instituição e não coopera com a direção; 3) tática de colonização – o mundo externo, que é reservado ao indivíduo, é considerado como o todo. Uma existência estável e satisfatória. Trata-se de uma redução usual entre o mundo externo e o mundo institucional; 4) tática de conversão – há a aceitação do internado a interpretação oficial (‘o internado perfeito’). Cada tática representa uma forma de enfrentar a tensão entre o mundo original e o mundo institucional.
Ressalta-se o problema do ambiente, algum local ou alguma região do hospital. Há os espaços fora do alcance, tudo o que estivesse fora das paredes de onde a equipe dirigente observe. Há o espaço de vigilância, área destinada ao paciente onde estava sujeito à autoridade e às restrições. Os espaços não-regularizados, meios temporários em que se evita a vigilância, espaços físicos limitados designados por ‘locais livres’ – a face oculta das relações usuais entre internos e dirigentes. Casa de guarda, cantina e refeitório são esses ‘locais livres’, ambientes empregados para as atividades proibidas, preenchido por um relaxamento, em uma conquista de tempo livre do controle rígido. Mas quando um grupo de pacientes acrescenta, ao seu acesso a um local livre, um direito de manter afastados todos os outros pacientes: elucidam-se ‘restrições territoriais’ ou território de grupos. Enumeramos os locais livres, os territórios de grupo, faltam-nos definir os territórios pessoais – contínuo entre o lar e o refúgio. O quarto de dormir é o tipo básico de território pessoal. O cobertor é um espaço mínimo em que se transforma em território pessoal. Um território pessoal pode ser criado dentro de um local livre ou de um território de grupo. Doravante, há o ‘stash’ (esconderijo): local pessoal de armazenamento que impede intromissão e a interferência ilegítima, um corpo humano (vivo ou morto) pode ser um objeto guardado em esconderijos.
Nesta toponímia, o hospital psiquiátrico é, pois, uma organização formal instrumental com limites físicos, que podem ser incidentais, mas neste caso os limites são as paredes, ou seja, são organizações muradas e há a adesão visível, isto é, há a submissão dos indivíduos nas atividades da organização. Em primeiro lugar, há alguns direitos garantidos de padrões de bem-estar; em segundo, visa-se a cooperação por valores comuns; em terceiro, torna-se necessário dar incentivos; enfim, induz-se por castigos para que o participante coopere (sanções negativas). Tudo isso incita o desejo de fuga dos internados. Toda organização inclui disciplina de atividade e disciplina de ser. Há, entretanto, o esforço de a equipe hospitalar em frustrar atos autodestrutivos que tendem a gerar ‘maus-tratos’, ora... e os castigos em celas fechadas?
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