sábado, 22 de novembro de 2008

Multidão: guerra e democracia na era do império (MIchael Hardt e Antonio Negri)


Pensar a multidão de Hardt e Negri necessita, em princípio, defini-la, mas ao mesmo tempo distinguindo-lhe de povo, para não confundi-los. Por um lado, o povo é uno, porque reduz as diferenças sociais em uma identidade, sujeito social cuja diferença se mantém uniforme, por outro lado, a multidão é composta por um conjunto de singularidades, sujeito social cuja diferença se mantém diferença. A multidão pode ser compreendida como singularidades plurais que contrastam com a unidade indiferenciada do povo, em suma, o múltiplo e o singular da multidão não se compõem do mesmo modo que a identidade e a unidade do povo.

Se o Estado-moderno pôde transformar a multidão em povo, de outro modo, as duas faces da globalização se alojam entre o Império – como mecanismo de controle – e a multidão – criação de novos circuitos de cooperação. Assim, pode-se concluir que a multidão é uma nova alternativa que se constitui dentro do Império. Ela é uma rede em expansão onde todas as diferenças podem ser expressas, proporcionando trabalhar e viver em comum. O Império torna-se, em contraste, uma nova forma de soberania ou nova forma de ordem global e também tem sua configuração em rede: os pontos nodais estão nos Estados-nação dominantes, instituições supranacionais, grandes corporações capitalistas. Sinaliza-se, deste modo, que o Império é a única forma de poder que será capaz de preservar a atual ordem global, dominando essa ordem fraturada por divisões e hierarquias internas numa guerra perpétua – o “estado de guerra” é inevitável no Império. Portanto, a multidão atua através do Império para criar uma sociedade global alternativa, assim busca-se analisar como a guerra mudou nossa época em matéria de política e democracia.

Trata-se de observar a guerra em sua transformação em condição geral – violência presente como potencialidade constante. Daí argumenta-se que a multidão deve ser apreendida como carne viva que se governa a si mesma, como sujeito social ativo, agindo naquilo que as singularidades têm em comum, mas desafiando tudo o que é uno: partido, monarquias, povos ou indivíduos. Esta é uma pesquisa que inicia os primeiros traços que definem os lugares de exploração, baseados nos lugares específicos em que se encontram – de onde se manifestam os atos de recusa, êxodos, resistências e lutas.

Todos os conflitos armados devem ser considerados como “guerras civis imperiais”, mesmo quando envolvem Estados, assim como cada guerra local deve ser encarada como uma rede ou constelações ligadas a tantas outras guerras numa guerra civil global. Este trabalho poderia muito bem ser intitulado “Uma Genealogia do Estado de Guerra”. Trata-se de três grupos da multidão, dessas subjetividades de resistência ou contra-insurgências. Em primeiro lugar, os modernos exércitos populares (exército de trabalhadores industriais) e as forças guerrilheiras (bandos camponeses): revolução cultural chinesa e modelo guerrilheiro cubano; em segundo lugar, a intifada palestina, o exército zapatista de libertação nacional e as lutas contra o apartheid; em último, os fóruns sociais mundiais – como um ataque em rede, policêntrico, da inteligência enxame, informacional.

São citadas as estratégias das Forças Armadas Americanas com seus exércitos mercenários, após o Tratado de Mísseis Anti-Balísticos. Da guerra fria soçobraram juntos, guerras incorpóreas e ataques suicidas, crimes contra a humanidade e inimigos monstruosos, enquanto isso a nova justiça imperial vacila em seus tribunais internacionais penais.

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