quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Caosmose: um Novo Paradigma Estético (Félix Guattari)


Refere-se à semiotização e a opinião pública. Trata-se de três problemas acerca da oposição entre sujeito individual e sociedade: 1) dos fatores subjetivos que desempenharam papel de grande importância pelos mass mídia de alcance mundial (estudantes chineses, povo indiano, queda da cortina de ferro, guerra do golfo, etc.). É como se tivesse que domesticar a opinião árabe por um processo de subjetivação que envolvesse o ponto de vista yankee por meio da mídia e das armas. São singularidades subjetivas reivindicadas na história contemporânea, pois fracassou certa representação universalista da subjetividade. As ciências estão insuficientes e mal armadas para a mistura de apego arcaizante às tradições culturais e a aspirações à modernização tecnológica. Torna-se necessário forjar a concepção transversalista da subjetividade respondendo às amarrações territorializadas [territórios existenciais] e para abertura de sistemas de valor [universos incorporais] sociais e culturais. Ressalta-se a heterogeneidade dos componentes semiológicos significantes; os elementos fabricados pelos mass mídia, cinema e as dimensões semiológicas a-significantes; 2) das produções maquínicas do subjetivo. Transformações tecnológicas que reduzem e homogeneízam a subjetividade e uma tendência a singularizar seus componentes, no caso dos microcomputadores. A produção maquínica de subjetividade nem é pior nem é melhor, depende de sua articulação com os agenciamentos coletivos de enunciação. Melhor é a criação de universos de referência, pior quando depende da mídia; c) dos aspectos ecológicos e etológicos, na renúncia aos complexos freudianos universais constituintes da subjetividade, por fases desde a infância. Valorizar o caráter trans-subjetivo (ecologia mental e social). Busca-se uma intersecção de universos incorporais ou de referência para recompor uma corporeidade existencial. Re-singularizar: transplantes por transferência, procedimentos de uma criação, o paradigma estético – criam-se novas modalidades de subjetivação, tal qual um artista plástico. A tecnociência, o seu processo criativo (estético) e a criatividade tendem a encontrar uma especificação artística, mas o paradigma estético implica uma instância ético-política.

A definição de subjetividade dá-se quando o individuo ou coletividades emergem como territórios existenciais auto-referentes em adjacência com uma alteridade subjetiva. O coletivo é uma multiplicidade além do indivíduo, junto ao socius, e aquém da pessoa. As condições de produção evocam instâncias humanas intersubjetivas (linguagem) e instâncias sugestivas ou identificatórias (etologia, interação institucional, dispositivos maquínicos, universos de referências incorporais): parte não-humana, a heterogênese da subjetividade. Conteúdos ditos científicos (psicanalíticos), mitologias religiosas e míticas valem como produção de subjetividade. A subjetividade capitalística está no contexto do desenvolvimento contínuo dos mass mídia, dos equipamentos coletivos, da revolução informática. Trata-se de descentrar da questão do sujeito para a questão da subjetividade. Tomar a relação sujeito/objeto pelo meio e passar o que se exprime e o conteúdo em primeiro plano, pois a subjetividade dá consistência à qualidade ontológica enunciadora. Todas as modelizações se equivalem, exceto por suas relações (agregações) que traçam certo vetor, uma escolha micropolítica. O inconsciente maquínico de Proust é, por exemplo, uma discursividade a partir de ritornelos complexos que desenvolvem universos de referencias heterogêneos, há a necessidade de um corte, uma parada ou mudança temporal.

O inconsciente é um equipamento coletivo. Do paradigma cientificista ao ético-estético. Admitir que cada indivíduo, cada grupo social veicule sua modelização de subjetividade através de cartografias, de demarcações cognitivas, míticas e rituais em relação aos seus afetos, angústias, inibições e pulsões. O inconsciente superpõe múltiplos estratos heterogêneos de subjetivação (de extensão e consistência). Trata-se de um inconsciente mais esquizo, de fluxo e de máquina abstrata, mais do que de estrutura e de linguagem. Há a criação de uma textura ontológica heterogênea, uma nova tomada de conhecimento sem mediação, mas aglomeração ou prática (não-discursiva) de subjetividade, ela mesma mutante.

Um comentário:

Kah disse...

Texto muito bem escrito sobre um tema muito interessante.