segunda-feira, 24 de novembro de 2008

O Local da Cultura (Homi K. Bhabha)


O pós-colonial está prenhe aqui de uma identidade confrontada por seu outro. Cisão do sujeito. Na invisibilidade que se opõe ao ego em sua equivalência da imagem e identidade. Questiona-se o modo de representação da alteridade. Para compreender as contribuições de Homi K. Bhabha destaca-se o estereótipo e a mímica como estratégia de conhecimento e identificação. Modo de representação complexo, ambivalente e contraditório. Trata-se da construção do sujeito no discurso e poder colonial, articulada sob as formas da diferença (racial e sexual). O sujeito dominado e o dominador estão estrategicamente colocados no interior do discurso colonial.

Há uma atribuição de ambivalência das relações saber/poder e os estereótipos de selvageria, canibalismo, luxúria e anarquia interpõem-se. São processos de subjetivação que se desenvolvem através dos estereótipos. O discurso colonial se torna um aparato de poder que reconhece e repudia a diferença cultural, criando ‘povos-sujeitos’ e legitimando os estereótipos do colonizador e do colonizado. Discurso que apresenta o colonizado como degenerado, um outro que é apreensível e visível. Percebe-se uma estratégia de coordenadas do saber (racial e sexual) como modo de diferenciação no discurso colonial por meio do conceito de dispositivo e aparato, entretanto faz-se uma leitura do estereótipo em termos de fetichismo – um elo funcional entre o fetiche e o estereótipo. A pele é, como diferença racial e cultural, o mais visível dos fetiches.

Pode-se referir em fetiche ou estereótipo como uma identidade baseada na dominação e na defesa, uma crença contraditória em reconhecer e recusar a diferença. Por um lado, crença na diferença que torna o sujeito colonial como desajustado, por outro, o estereótipo é a falsa representação de uma realidade. O estereótipo fixa, enfim, o racismo. Fixação em uma consciência negadora do corpo ou fixação em uma consciência como novo tipo de homem. Ao sujeito colonial é reservada a negação que dá acesso ao reconhecimento da diferença. O sujeito colonial como efeito de poder através de uma vigilância que se define como ‘pulsão escópica’: prazer de ver, o olhar como objeto de desejo – o fetichismo localiza o objeto vigiado no interior da relação imaginária. Colocar o estereótipo (modo retido e fetichista de representação) dentro do campo de identificação é um objetivo imaginário como transformação no sujeito que assume uma imagem distinta que lhe permite postular equivalências, semelhanças, identidades entre os objetos do mundo ao seu redor. O sujeito reconhece uma imagem alienante que se relaciona entre as duas formas de identificação com o imaginário: narcisismo e agressividade – formas estratégicas do poder colonial em relação com o estereótipo.

A mímica é uma outra estratégia do saber/poder colonial. A mímica colonial é o desejo de um Outro reformado e é marcada por uma indeterminação – representação de uma diferença como processo de recusa. Ressalta-se a ambivalência da mímica (quase o mesmo, mas não exatamente) que rompe o discurso colonial e fixa o sujeito como presença ‘parcial’ (incompleto e virtual). A mímica em sua visão dupla revela a ambivalência do discurso e desestabiliza sua autoridade. A visibilidade da mímica torna-se uma interdição no discurso colonial, que se posiciona entre o conhecido e o permitido, e aquilo que deve ser oculto, embora conhecido. O desejo da mímica tem objetivos estratégicos: metonímia da presença. Presença branca e semelhança negra – ambivalência da sujeição colonial. A mímica é uma estratégia errática e excêntrica do discurso colonial. A mímica é um objeto parcial e um fetiche que imita as formas de autoridade, mas as desautoriza.

No confronto da identidade com seu outro tece um entre-lugar no local onde se emaranha estratégias de saber/poder colonial, cujo fetiche do estereótipo e a metonímia da mímica são a desautorização daqueles que só lhes é reservado a negação do pedagógico e do performativo.

2 comentários:

Unknown disse...

Nossa achei muito interessante o texto tendo em vista que estou iniciando o mestrado em letras e de início peguei a obra para leitura e apresentação, achei muito complexo, agora ficou mais claro!

Diarioblog disse...

Quando vc se refere a ‘povos-sujeitos’, seriam desclassados?